quinta-feira, 21 de março de 2013

Quão claro é algo escuro ?

A sujeita de cabelo escuro, que teimava em usá-lo curto, despenteado, irreverente e tinha um assumido agrado quando ao espelho admirava o contraste que este fazia com a tez clara que emanava inocência, acordou e as nuvens haviam descido à terra. Isto é como quem diz, a sujeita gostou do que viu no espelho, foi à janela e vai-se a ver, estava nevoeiro. Ora há muito que se diga em relação ao tão aclamado nevoeiro. Era denso, trazia uma tristeza adjacente e absorvia os sonhos das pessoas que o fitavam. Foi por causa deste nevoeiro que a sujeita de que falámos, somente agora será nomeada. Era necessário mencionar o nevoeiro para justificar o nome triste que ela tem. Chama-se Azul.
Azul deixou-se viver até aos vinte e três anos, e depois mudou-se para uma casa, longe da sociedade e perto da natureza, onde se sentia mais humana do que cidadã. Por um tempo, pouco importa quanto, alimentou-se da alegria que o sol deixa fugir, e deixou-se inundar pela tristeza que se sentia com o ar frio e húmido dos dias que gritam Inverno. Mas hoje não. Hoje estava nevoeiro! O nevoeiro não é nada ! Não é nem quente, nem frio, deixa-se existir num intermédio insuportável. São os extremos que alimentam Azul ! Mas que porra vai ela fazer com nevoeiro ?!
Este nevoeiro . .
Após vê-lo insurgiu-se contra si mesma, e finalmente percebeu. Era miserável. O tempo ? Que desculpa infantil. Era dentro dela que estavam as estações do ano, dentro dela um fulminante sol infinitamente se consumia,e era o negrume da alma dela que de quando em vez circundava o sol e o impedia de brilhar, deixando-a com uma escuridão que não sabia ter em si mesma. Era ela, fora sempre ela. Havia fugido da sociedade sem se aperceber do erro que cometia. Mas não ! Não mais ! Havia chegado a hora de perspectivar. A vida resume-se a isto, e Azul finalmente sabia. Por gozo deixou-se ficar pela casa durante uns tempos, e foi feliz nos dias frios, e escolheu sentir alguma miserabilidade nos dias quentes. Sentiu o que quis, quando quis. E quando se fartou de brincar aos sentimentos consigo mesma, subiu um nível e saltou voluntariamente para a sociedade, e foi abusada, foi levada até extremos sentimentais que não sabia ter. Experimentou ser manipulada, ser usada, ser julgada, ser indiferente, ser útil, e por fim, ser amada. Deixou que fizessem o que quisessem com ela, e já em alto mar, depois de se ter deixado levar por inúmeras correntes, todas elas com diferentes direcções sentiu-se completa. Pode escolher o que sentir, deixou que outros escolhessem por ela, e agora, estava só mas cheia de si, estava completa. Pura e genuinamente feliz. Já tinha sentido, tinha experimentado, tinha aprendido a controlar, tinha aprendido a ser controlada.
Azul, já não era miserável, Azul era vivida. E agora, não era triste, por isso, apesar de o nome dela se ter mantido, sabemos que é um azul com uma tonalidade completamente diferente este de que falamos. É um azul que vive entre o que dá cor ao céu e o que colora o mar.

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