quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Expande-te, sanidade, ao mórbido.

O sangue brotava incessantemente, era tarde demais e ela sabia-o. Deixou que a faca com que havia roubado a vida daquele corpo saísse das suas mão culpadas. Culpa, que sentimento tão dúbio, agora que embatia em si a cru quase a fazia sentir-se poderosa. O domínio de findar a expressão de uma alma, eternamente incapacitar um corpo, ver os olhos perder tudo quanto alguma vez haviam tido.
Nem percebia bem porque é que tinha feito aquilo. É certo que aquela vida a incomodava e condicionava a sua, por anos, demasiados, porque os anos são sempre demasiados, tinha sido completamente controlada. E a morte era a única forma de libertação que restava. Quando há uns minutos atrás teve que escolher entre a sua vida e a de outrem, não hesitou. Matou para viver.
E agora tinha-se a si e a um corpo inerte. E há justiça nisto ? Sensatez ? Apagará esta morte o sofrimento causado ? Irá o tempo de vida que lhe resta compensar a eterna memória de ceifar uma vida ?
Tudo nela pulsava e latejava, o espaço em que estava caía sobre ela, respirar tornava-se progressivamente mais difícil, temia desmaiar. E de súbito, algo emergiu do mais ínfimo de si, uma força, uma onda de calor e excitação que nunca antes havia conhecido. Se calhar ser louco não é mais que isto. E correu, correu como nunca, correu com vontade de gritar a plenos pulmões, vomitar as entranhas, lavar a alma daquele corpo.
Nada mais restava senão fugir, e ser louca, livremente louca num outro local.
O cadáver seria encontrado, procurá-la-iam, e não importava. Ia ser simpática com estranhos, e conversar intensamente com quem lhe interessasse, ia amar, ia viver. E ia fazê-lo com um brilho nos olhos e um sorriso na cara. O tipo de sorriso e olhar que só um criminoso é capaz de ter.
Oh e o perigo de ser descoberta a qualquer momento deixava-a extasiada !
Ser descoberta valeria a pena, ter morto valia certamente.
Um dia também ela morreria e todas as contas ficariam saldadas, questionámos a justiça há pouco e quiçá ela não se expanda por mais que isto.

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