quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Fervet Opus

Não pus açúcar no café, por isso amarga.
Não vou adoçá-lo, antes deixar que seja ele a amargar-me.

Este quarto é grande demais para mim, desalenta-me. 
Cabem aqui muitas pessoas que não estão cá. 
Não estão cá e não as quero aqui, mas cabiam se estivessem.

Não me dás nada que não me tires, é tudo temporário, já percebi, escaldas-me com esses acessos de fúria. Não te quero mal e não me fazes bem. Entendo que não tenho culpa com que te selar as ações, a vida é-te madrasta, a rotina deixou-te exausto, os anos que seguras nas mãos não deixam espaço para que elas contenham também juventude. Mas podias ser feliz se quisesses. 

Não sejas tu a amargar-me. 
Queres a minha alegria? 
Dou-ta, a que tenho e a que não tenho. 
Fica com ela, adoça-te por fim.

Acabei o meu café, estamos conversados.

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