terça-feira, 11 de novembro de 2014

Adorno das bestas, jaez.

Se eu fosse feliz não escrevia isto.
Se eu soubesse conquistar não sorria assim.
Se eu soubesse ser doutra forma, não sabia ser da forma que sou.
Sendo as coisas como são, sou a tela que não pintaste, mas a nódoa de café com que a sujaste. Sou a pessoa que escreveu o livro que não quiseste ler, sou quem tentou ensinar a quem não soube aprender, o amor que perdeste, a fúria que não tens, a saudade que não sentes, o beijo que não experimentaste. Não sou nada na ausência que és. Perdes dimensões a cada dia, fechas-te ao mundo por te negares à arte.
Fumam-te os cigarros. Viciam-se, eles, na tua vida. E tu dás-te assim, por um toma lá aquela passa. Fragmentas-te em beatas, perdidas pelo chão, sujas a rua, deixas-te pisar.
Ah! Como é acerbo saber-te assim, com essa insensatez bronca, comido pela dor que sentes, cego com certezas, afogado em frases feitas, surdo com conversas de autocarro. Estúpido! Podias ser diferente, podias duvidar, podias calar, podias ouvir a melodia. 
Quisesses tu e eras cor, sensação, cheiro, e sabor. Eras aquilo que sabes saber criar.

Oh, por quem me tomo! Em que delírios me passeio! Mas, então, se não sei eu ser de outra forma, porque haverias tu de saber?

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