Se eu fosse feliz não escrevia isto.
Se eu soubesse conquistar não sorria assim.
Se eu soubesse ser doutra forma, não sabia ser da forma que
sou.
Sendo as coisas como são, sou a tela que não pintaste, mas a
nódoa de café com que a sujaste. Sou a pessoa que escreveu o livro que não
quiseste ler, sou quem tentou ensinar a quem não soube aprender, o amor que
perdeste, a fúria que não tens, a saudade que não sentes, o beijo que não
experimentaste. Não sou nada na ausência que és. Perdes dimensões a cada dia,
fechas-te ao mundo por te negares à arte.
Fumam-te os cigarros. Viciam-se, eles, na tua vida. E tu
dás-te assim, por um toma lá aquela passa. Fragmentas-te em beatas, perdidas
pelo chão, sujas a rua, deixas-te pisar.
Ah! Como é acerbo saber-te assim, com essa insensatez bronca,
comido pela dor que sentes, cego com certezas, afogado em frases feitas, surdo
com conversas de autocarro. Estúpido! Podias ser diferente, podias duvidar, podias
calar, podias ouvir a melodia.
Quisesses tu e eras cor, sensação, cheiro, e sabor. Eras aquilo que sabes saber criar.
Oh, por quem me tomo! Em que delírios me passeio! Mas, então, se não sei eu ser de outra forma, porque haverias tu de saber?
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