Se amo, é qualquer coisa, entre o tudo e o nada.
Chama-me besta. Mas não consigo conceber o amor absoluto
como mais do que uma manta de retalhos. Cosem-se todas as desavenças de
identidades, todos os desatinos de atitudes, contrafaz-se uma harmonia, lava-se
esta dicotomia da razão, e estamos prontos para ser aquecidos e adornados pelo
amor.
Bons são os amantes.
Oh! Esses frequentadores de sentimentos,
Que sobejam,
E desejam,
De um trago só, tomar o engenho à vida.
Casados de tempos livres, encontram-se quando há vagar,
quando o tempo é propício, trocam um beijo doce, o coração bate forte contra o
peito, e é guerra aberta, sacra.
Batalham somente os de carne boa, que saram bem as feridas,
os que não temem cicatrizes, esses loucos solitários. Querem a antecipação, a
manipulação de variáveis, o desconhecido, desarmar o adversário antes de ser desarmado,
arrancar-lhe o riso espontâneo, saborear-lhe o olhar malicioso, controlar-lhe o
desejo, aceitar-lhe as delicadezas. Ganhar ou perder tudo, pouco importa. Desde
que o coração continue a bater, desde que não haja conforto, desde que isto
tudo seja racional.
A carta de amor que planeei escrever vai ter que ficar para
outro dia. Dei por mim, e era tarde demais.
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