segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Somos filhos da peste que imortalizamos.

Deixam-nos nascer, e quando nos tiram do berço levam-nos para jaulas almofadadas, onde devemos ser felizes a vida toda. Sedados com a ausência de sentido, vendem-nos a soldo, porque nos produzem em massa. Criam-nos a gosto. Por conveniência e necessidade ensinam-nos a ser parte da sociedade, a ter a voz tão ativa quanto a dos pares, porque de certa forma, somos todos iguais, crias, todos nós, da mesma fornalha viciada. Ensinam-nos a não causar embaraço, a não olhar para onde não devemos, e a não questionar o que está feito. Somos esculpidos em moldes pré-feitos, que vierem, também esses, de outros moldes. O escultores morreram quando morreu a última vontade.
Lá nos levam a passear, de tempo a tempo, vamos até onde nos querem ter, vemos coisas que nos vão deixar felizes, mostram-nos como é boa a vida segura que temos nas jaulas que nos deram.
Sortudos que somos.
Alguns, poucos, saem e nunca voltam.
Esses, os livres, os criadores, que não se deixam tomar. Esses soltam-se e criam. Fazem o que podem para libertar os que ficam. Não podem muito, mas não sabem parar. Depois de se tomar do frenesim do mundo, não se consegue caber em molde nenhum, não há limites, não há tempo e não há espaço, não há forma, nada é concreto nem linear, nada é estável, nada fica quando se pressiona.
Por isso é que devemos agradecer, pelo sítio onde nos guardam. É seguro, e confortável, está estruturado, e limitado, tomamos todos os dias, as decisões de todos os dias. Não há paranóia aqui, nem medo, nem obsessões, ou compulsões, estamos todos estáveis e equilibrados na cegueira da nossa inércia.
A maior ilusão, é a impenetrável.

Somos animais de estimação e o conforto das jaulas é o nosso dono, e o nosso mundo todo.

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