terça-feira, 4 de abril de 2017

A história que já se fez história.

Faz anos. 
Era de tarde, no jardim.

Estava frio, lá para uns dias de Outubto. Ou uma daquelas tardes de Julho, que por maldição se deixam resfriar. Compustura fraca de fumador não teme os resfriados de que fogem os outros.

Lá estávamos nós. Corrigo, eu. Eu sozinha, dentro de mim, numa realidade que andava a criar, embalada por uma qualquer música, coisa melancólica, o costume. 
Agasalhada até aos ossos, que o meu corpo nunca se soube aquecer sozinho. 
Com as pernas desalvoradas, não me sento como um humano conveniente, tento arrumar uma perna na outra, folgo sentir-me compacta no meio das arvores. 
Medito no assunto: muito gosto de jardins, e de me enroscar em mim. Fosse o narcisismo aconchego.
Mas bem, lá estávamos nós. 
Convidei-te para vir comigo, é por isso que agora, deliberadamente, pluralizo.

Com uma folhita de papel no colo, e uma caneta que ainda escrevia, almejava a fazer a próxima obra de arte desta geração. Devia estar com cara de quem já tem meio corpo noutro mundo, e a metade de cá em leilão. Acaso fosse a impressão diferente, confio que o senhor que passou por mim, não me teria dito nada.
Não me lembro da cara dele, nadinha. Se calhar tinha uma boina. Mas os velhotes quase sempre têm. Gostam muito de guardar a cabeça. Pareceu-me simpático. Podia ser meu avô, estivesse ele a adotar e eu para adoção. Tentei escrever qualquer coisa acerca dele, mas nunca consegui.
Finalmente percebo: Exagerei.
Ele só me disse: '' Menina, não pense tanto, que lhe faz mal''.
Podia até achar-me suicida, e estava a ver se salvava uma vida daquele dia de vivos, como são os dias todos, de vivos e dos vivos, mas enfim, nunca a redundância me fez cair.
Voltamos à conclusão.
Assim que ele acabou de falar, comecei a escrever desvairada, desarmada pela sabedoria daquele senhor, que na volta, nem soube bem o que é que lhe deu. 
Tentei. Não deu em nada.
E a culpa é minha.

Ás vezes, as coisas são só como são.
Se cair caiu, do chão não passa.
Daquele momento não passou.
Passou ele, todo contente, teve uma boa tarde.
E eu por lá fiquei, e tenho estado por lá estes anos todos, para só agora me aperceber, que às vezes pode ser tudo fácil.

Os dias são bons.

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