segunda-feira, 10 de abril de 2017

Andássemos nós despidos e despojados.
Sujos como somos desde o primeiro grito.
Sem o aconchego do trapo que nos disfarça os desconcertos,
Sem a exteriorização do ego ou da necessidade.
Despidos e a cru.
Soubéssemos nós caminhar como quem não se deixa ver.
Se calhar,
Só se calhar,
Despidos fingíamos menos.
Vulneráveis,
Dávamos melhor de nós.

Desculpa ter-me coberto de trapos.
Desculpa-me.
A mim e aos trapos. Que nem sabiam o que estavam a fazer, deixaram-se vir.
Tapei-me a mim e às minhas mentiras.
Tapei-me porque se me visses a nu,
Suja como estou desde o primeiro grito,
Com a pele fria de quem nunca sentiu amor,
E a fraqueza de quem não é deste tempo,
Não me voltavas a olhar.

Cobri-me para te proteger.
Oh!
Andássemos nós despidos e despojados,
Vulneráveis,
Dávamos melhor de nós.

Despidos e a cru,
Víamos.
E fingíamos menos.

Tivesse o remorso,
Este remorso,
O mesmo amparo que a ilusão.
Mas acabaram-se os trapos quando se ouviu o primeiro aplauso.
Começou alguém no fundo da sala, que quer escrever a próxima peça.
E todos se seguiram,
Só uma multidão lança uma salva destas.
Acenderam-se as luzes,
E assim, acabou.

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