terça-feira, 18 de abril de 2017

É quando perdes tudo,
E ficas sem alguém com quem partilhar o cigarro à varanda,
A sós contigo.
Vês mais, vês que querias mais.
E sobra-te amor.

Tristes os sós,
Que só se querem a eles.
Tristes que dão tudo ao que morre com eles,
Tristes que de prazer sorriem para o reflexo do espelho,
Tristes por se lambuzarem em todas as dimensões do que são,
Nunca ninguém os vai conhecer.
Tristes que bebem vinho sozinhos ao rasgar de uma brisa,
Amantes de encontros fáceis,
Domadores de camas quentes,
Apreciadores do nojo de existir nu,
Ah,
Eternos indomáveis.
São o último beijo de saúde.

São a última criatura sã,
O fim do sonho vívido,
A última fenda de amor-próprio.
Tristes os que se sabem querer antes de todos.

É quando perdes tudo,
Que vês a trama da ilusão.
Porque ainda que fraco e frágil,
Com medo e assustado,
És teu.
E ninguém te leva o que já viveste, já construíste,
Ninguém rouba o que guardas bem,
Ninguém tira de onde não chega.

E ninguém te vai dar o que não tens para devolver.
Não te iludas,
Estás só.
Como sempre estiveste,
Mas agora vês.

E vê,
Que sobejas,
De amor.
E de ti,
Ficas bem-amada.


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