quarta-feira, 12 de abril de 2017

Nunca devias ter acreditado,
Devias saber melhor,
Esses moralismos de coração doce,
Esse peito eternamente pesado com as dores dos outros.
Aos outros não lhes pesa assim.

Antes tinhas já visto desmoronar,
A garganta seca,
A boca semicerrada, os lábios despidos de cor, sem gota de sangue que os rose.
E nem queres acreditar, mas não escolhes a realidade.
O corpo fica-te dormente, com desejo de parar,
Preso enquanto tudo gira à tua volta, à velocidade de sempre,
A pele está fremente de dor,
Os arrepios frios lembram-te que estás viva e a vida não é nada,
Tremes e transpiras a raiva que não encerras.
Já viste morte antes,
Sabes que ensanguenta com o que podia ter sido.
Já viste a morte antes,
Sabes que leva sempre mais do que tens para dar.
Nunca devias ter acreditado.

A tua teimosia endoidece,
Acordada és armadura,
Mas deitas-te de peito aberto e a descoberto,
Sabes que é à noite que se roubam almas.
Sabes que é à noite, debaixo da lua, que mais se mata.

Já viste a morte antes,
Calma como tu, magoa com a mestria de quem é eterno.
Não tens como competir,
Mas não te guardas,
Desprezo que ajas como se te aprouvessem estes encontros.
Vais continuar a dar-lhe de ti?
Não julgues que ela te devolve,
Não julgues que te voltas a construir feliz.
Não julgues.
Se esse coração doce não morrer do veneno,
Morre de consumo, do peso, da causa de ruína.

Esse peito eternamente pesado com as dores dos outros,
Moralismos de coração doce,
Não há asilo na era da inocência.

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