domingo, 11 de agosto de 2013

Já que o não sou por tempo,
Seja eu jovem por erro

Quando o sol se vai e a visão não é o que outrora foi , todos os outros sentidos se enfatizam.
O mundo esmorece, importa um bocadinho menos, ficamos ligados a quem partilha isto connosco, acabamos por nos deixar perspectivar, e apercebemo-nos de que nada mais que isto importa.
Eu deixei um pedaço de mim numa madrugada. E vai ficar lá para sempre, imortalizado na memória que vive em mim e se expande a outro alguém.
Na madrugada de que falo, eu conversei sem pensar se o que dizia era correto, se podia partilhar assim tanto de mim, sem temer contar o que sempre calei. Ouvi segredos de uma alma pura e honesta, segredos que conservarei. Discutimos metafísica sem quaisquer preciosismos de modo, somente uma mente aberta, embriagada, jovem no seu mais puro brilhantismo. Emanava calma de nós, entendimento, tudo era inocente, honesto, verdadeiro, intuitivo, natural, livre, em suma, era o que o mundo teima em não ser.
Eu prometi não me deixar perder, prometeste não deixar que me perdesse.
Prometo agora não deixar que baixes os braços, e assim tudo é mais justo.
Tu sabes o que a vida faz às pessoas, como o mundo as molda, sabes que as pessoas se deixam absorver pelo supérfulo, se agarram aos números, e começam a achar que a arte é o que está em voga e não o que lhes faz vibrar a tão consciente existência. Sabes que as pessoas tendem a ter segundas intenções, a ser más, a magoar, a fingir. Eu sei que sabes tudo isto, porque há em ti algo de transcendente que te permite ler as pessoas.
Eu vivo alheia à tua sabedoria, gosto de confiar, de acreditar no poder uma promessa, de aceitar o belo somente por sê-lo, e haver nisso beleza. De estar com as pessoas de quem gosto e confiar-lhes quem sou, gosto de me deixar revelar a quem é fiel a si mesmo, gosto de apreciar um silêncio quando fico sem nada para dizer, gosto das coisas simples e deixo que as complicadas me afectem. Agrada-me pensar que não há mais no mundo que aquilo que os dados dos sentidos apreendem, que nada entre os humanos se passeia com consciência, agrada-me escolher não acreditar.
Somos diferentes, sabemos e acreditamos em coisas diferentes, vemos e vivemos de forma diferente, mas quando há, casualmente, algo em comum, deixamos que se torne o ponto em que as nossas almas tocam , deixamos surgir em nós um entendimento que é cego e imenso.
E eu sei que vais ser grande um dia, os teus sonhos fazem sentido, têm um propósito, tens em ti a loucura de um eterno apaixonado, e nada mais na vida vais precisar para que te eleves ao excelente, para que faças moça no mundo, para que te libertes da lei da morte. Que deixar de lutar não seja nunca uma opção, se está a custar não lutes sozinho, junta mais alguém, mas continua, continua sempre, por ti, pela arte e pelo mundo que tanto dela precisa.
Acabou por nascer o sol, trouxe consigo a realidade que é absurda por ser mais intensa e vazia que um sonho, morreu a madrugada,e resta guardar nela o que nela se viveu, somente a ela pertencem os segredos que se partilharam e criaram.

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