terça-feira, 17 de junho de 2014

O que digo, não se escreve.

E queres que todas as decisões que tomas te mudem a vida. E queres que tudo tenha significado. E queres crescer e ter tudo feito, os sonhos tornados realidade, a vida conseguida.
Largas horas passas a meditar sobre isso, tentas tomar o sabor da bebida imaginando-lhe o cheiro. Utopias, meu amor.
Mas, que seria de ti sem que te dominasse o sonho? Se deixasses de acreditar que, um dia, o mundo se vai mancomunar contigo, e terás sorte? É doce essa tua recatada sede de conhecimento e experiência, é sangrenta a fé que tens nas tuas capacidades. Mas, diz-me, ainda te lembras dos tempos em que passavas horas a brincar com a tua imaginação? Transformavas a sala de estar numa cidade. Fresca criança, residia o universo em ti. E estou certa que não estás também esquecida de teres desejado falar com a versão dez anos mais velha de ti, só para saberes o que o tempo te ia fazer. Oh eu lembro-me bem e gostava de te poder realizar os devaneios. Mas, minha pequena, o tempo deixou-te, não foi por mal, tinha que ser, e, se te serve de compensação, a minha memória de ti está intacta, é como se nunca tivesse crescido. 
É realmente como se nunca tivesse crescido, porque os meus sonhos não se concretizaram. E esta afirmação, note-se, carece de opróbrio, porque estou derradeiramente agradada com a situação.
Domina-me a contingência, coleantemente, porque aliás é muito melhor decisora do que eu, já provou lealdade e exibe a certeza de que a vida não é para ser conseguida, mas desfragmentada em histórias barulhentas. 

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